É possível viciar em café?

O consumo de café já é praticamente um patrimônio nacional, mas seria ele tão intenso devido ao poder de dependência da bebida ou isso não passa de um hábito cultivado há décadas? Esclarecemos um pouco sobre o assunto a seguir

Para a grande maioria da população tomar café é parte integrante indispensável do seu cotidiano. Seja pela manhã, para garantir uma dose de energia para encarar o novo dia, em um café da tarde, acompanhado de deliciosos quitutes ou no meio da madrugada, como combustível para o trabalho ou estudos, o cafezinho está presente na vida de 97 a cada 100 brasileiros.

Por ser tão popular, a temática do café sempre carrega consigo diversos questionamentos a respeito do quão saudável ou prejudicial a bebida pode ser à saúde, tendo com frequência a periodicidade e quantidade de consumo no centro dessas discussões, destacando-se principalmente indagações a respeito do seu potencial de gerar vício. Para elucidar o assunto é muito importante primeiro definir e entender alguns conceitos a respeito do tema e como o café se encaixa dentro deles.

 

Café é uma droga?

Popularmente o conceito de droga habita o imaginário comum como alguma substância ilícita, com grande potencial de dependência e dano à saúde, entretanto essa imagem é um tanto quanto deturpada. A definição de droga é amplamente abrangente e se estende para as mais diversas substâncias, não sendo necessariamente sinônimo de algo ruim ou prejudicial, muito pelo contrário em diversas vezes! Segundo a OMS, droga é toda substância que, quando introduzida no organismo, interfere no seu funcionamento. Perante tal definição podemos portanto classificar como droga não apenas as ilícitas já conhecidas e estigmatizadas, mas também o álcool, medicamentos e o próprio café.

O café quando ingerido provoca mudanças temporárias no metabolismo, e isso se deve principalmente pela presença da cafeína. Um dos seus modos de ação é pelo bloqueio dos efeitos da adenosina, uma substância que atua no sistema nervoso central como neurotransmissor diminuindo a atividade neural e dilatando vasos sanguíneos. Nesse caso, a cafeína se liga aos receptores naturais de adenosina, impossibilitando portanto sua ligação e consequentemente ação, o que resulta em um aumento da atividade neural e constrição de vasos sanguíneos.

A ação da cafeína no sistema nervoso central influencia no restante do organismo, promovendo também uma maior liberação de adrenalina pela glândula suprarrenal e o bloqueio da ação da enzima fosfodiesterase, que é responsável por destruir a molécula que participa da transmissão dos sinais excitatórios da adrenalina, permitindo portanto que eles continuem ativos por mais tempo. A grande quantidade de adrenalina circulante e o prolongamento do seu tempo de ação também contribuem, portanto, para aumentar o estado de vigília, melhorar a disposição e evitar a sensação de fadiga, o que, devido a esses efeitos causados, classifica o café como uma droga estimulante.

É importante também citar que a cafeína aumenta a concentração de dopamina circulante, um neurotransmissor relacionado ao prazer, por impedir a sua recaptação no sistema nervoso central, o que está ligado à sensação de satisfação e bem-estar após o consumo dessa substância.

 

O potencial de gerar dependência

Dentre os mais diversos tipos de substâncias classificadas como drogas existem diferentes potenciais de gerar dependência, a qual é definida como um estado de necessidade física e/ou psíquica de ao menos uma droga, resultante de seu uso contínuo ou periódico. Fazer uso de uma droga não significa  necessariamente promover adição a ela, principalmente quando falamos de café e diversas classes medicamentosas, mas é sim importante atentar-se às possibilidades.

A cafeína possui um baixo poder de adição e, portanto, gera opiniões controversas entre pesquisadores. Como já é sabido, a cafeína age como moduladora da dopamina, aumentando sua concentração no sangue, assim como também o fazem anfetaminas e cocaína, por exemplo.

A sensação de prazer e o sistema de recompensa cerebral estão intimamente ligados à dopamina e ao desenvolvimento do vício em substâncias. Por a cafeína apresentar uma ação semelhante a de outras drogas e possivelmente ativar o sistema de recompensa cerebral alguns pesquisadores defendem que café pode sim gerar vício, inclusive sendo esse risco muito mais pronunciado naqueles que já possuem histórico de abuso de substâncias químicas ou desordens psiquiátricas.

Em contrapartida, há aqueles que defendem que, apesar da cafeína ter modo de ação semelhante a outras drogas fatalmente aditivas, seu efeito é muito diminuto quando comparado ao dessas substâncias, não gerando fissura ou interferindo de forma drástica na vida dos indivíduos e, portanto, não seria capaz de gerar vício, mas sim apenas originar um hábito de consumo.

 

Síndrome da abstinência

Apesar da ausência de consenso sobre a possibilidade de adição em café, a interrupção brusca do consumo habitual de cafeína é responsável, em diversos casos, por sintomas de abstinência, como irritabilidade, ansiedade, letargia, cefaléia, sonolência, redução na concentração e sensação de cansaço. Esses sintomas geralmente aparecem em até 24 horas após a interrupção e permanecem por alguns dias, entretanto é válido lembrar que as manifestações da cafeína no organismo podem ser muito distintas. Dessa forma, a síndrome de abstinência bem como os efeitos diretos do café estão intimamente ligados às características do indivíduo que o consome, diferindo de acordo com idade, sexo, composição corporal, hábito de consumo da bebida, dentre outros.

Independente de chamar-se “vício” ou “hábito”, o fato é que quanto mais se toma café mais se quer tomar. É importante, portanto, manter uma relação saudável com seu consumo, sempre evitando excessos e utilizando produtos com excelente qualidade, como o café especial da Fazenda Aliança. Já foi mostrado que ingerir até 400mg de cafeína diariamente não traz nenhum prejuízo notório e inclusive pode gerar diversos benefícios à saúde, desde maior disposição ao aumento da expectativa de vida. Ao final, “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, como diz a célebre frase do médico e físico Paracelso, a qual se aplica com maestria a esse caso.